Até esse ano, dois de setembro era sempre um dia de lembrança triste. Todos os anos, nesta data, eu lembrava do dois de setembro de 1987, quando cheguei em casa do ballet e meu pai não estava mais lá. Tinha saído de casa sem se despedir da gente.
Por mais que eu soubesse que a separação foi boa para nós todos e que meu pai nunca me abandonou, não teve um ano todo esse tempo em que eu não lembrasse que no dia dois de setembro de 1987 ele saiu de casa.
Até que, esse ano... Imaginem vocês que eu tinha acabado de acordar. Saí andando pela casa para dar bom dia à Ivonete, a minha diarista de tantos anos. Ela estava passando roupa e me chamou para eu ir ver uma coisa lá com ela. Fui, ainda no automático. Quando chego junto dela, ela diz: "olha o que eu trouxe para você!" Meus olhos arregalaram e minha primeira atitude foi dar um passo atrás. Para depois, então, dar um passo a frente e entender: ela me deu um jabuti! Foi um baita susto!
Pois foi, no dia dois de setembro deste ano, eu ganhei o meu primeiro bichinho de estimação da vida! Como não tive nenhum bichinho enquanto eu era pequena, me senti, outra vez, uma criança descobrindo todo um novo mundo. Como cuidar? O que dar de comer? Como vou chamá-la? É menino ou menina? Me senti criança outra vez e pude então escolher como eu gostaria de lembrar do dia "dois de setembro" daqui em diante. E escolhi que lembraria como o "aniversário do jabuti". Um bicho que vive tanto!
Ganhar um jabuti da diarista é uma coisa boba. Teve gente que ficou me perguntando: "e você, aceitou?" Claro que eu aceitei, feliz da vida, apesar de detestar surpresas! Minha jabuti, que foi apelidada de Maria Fidel Castro, teve o poder de substituir uma surpresa ruim por uma surpresa boa no meu baú de recuerdos. E chegou em ótima hora para me ensinar que devagar é que a gente vai longe.
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