sábado, junho 19, 2010

Conto de uma tarde de inverno

Once upon a time, nos idos dias de 2004, escrevi um conto sobre um encontro meu com Chico. O engraçado foi que em 2005 ele foi flagrado em uma situação super parecida. E eu pude até brincar com os meus amigos de que a moça da foto que estampou as revistas de fofoca era euzinha da silva.
Hoje Chico completa 66 anos e Ana Prôa me pediu para publicar esse texto, até então restrito a emails entre amigos. Aqui está:


Quarta-feira, 02 de março de 2005.
Assunto: ih... descubriram nosso romance e agora sou capa de QUEM!!! hahahahahahaha

Glamurama - 01/03 - 12:49 - Mais discreto impossível... Chico Buarque, quem diria, foi flagrado dias atrás no maior chamego com uma morena de parar o trânsito, em plena Praia do Leblon. Só restou ao compositor pedir ao paparazzo para que não publicasse a foto. Claro que seu pedido não foi atendido: o beijoqueiro é a capa da revista "Quem", que sai nesta quarta-feira.
alguns de vcs já conhecem essa estória, mas agora o contexto é outro! Divirtam-se!
 
Não falta mais ninguém... nem Chico!

E eu que vivia dizendo por aí que um dia ainda ficaria com Chico. Precisava apenas que eu tivesse uma oportunidade, que o conhecesse. Pois bem, minha profecia se concretizou... Vocês não vão acreditar! Hahaha! Hoje eu conheci Chico. Hoje eu beijei Chico!

Eu fui realmente muito maluca! Mas agora me sinto a pessoa mais feliz do mundo! Mais feliz e mais realizada! Agora não falta mais ninguém!

Querem saber como foi? Lá vai então...

Estava andando na beira da praia, perto da casa dele, lá no Leblon. Tava uma tarde meio estranha, cinza e eu andava toda distraída... Pensando na vida... Nunca imaginei que conheceria Chico numa tarde cinza... Logo numa tarde cinza! Meu Deus! Meu encontro com Chico merecia um céu azul e um belo pôr do sol... Mas a vida é irônica e eu conheci Chico numa tarde cinza de começo de inverno, para fugir do clichê, talvez...  

Pois bem, eu estava andando distraída, pensando na vida, jogando água gelada para cima com os pés. Até que de repente, eu dei um chute na água mais forte e molhei o senhor que estava andando um pouco mais na minha frente. Ele virou de costas puto da vida e assustadíssimo, claro! Imagine, você está andando na beira do mar e de repente recebe aquele banho de água fria pelas costas... Ele se vira, depois de soltar um sonoro porra, e eis que eu havia molhado simplesmente Chico Buarque!

Demorou uns dois segundos para que a ficha caísse de que aquele senhor que eu molhei era Chico. Mas quando me dei conta, quis morrer. Afogada de preferência, claro!

Pedi desculpa, disse que estava distraída, gaguejei, paguei todos os micos possíveis. Comecei com aquele discurso... Meu Deus, como posso ser tão avoada... Me desculpe, por favor!

Ele acabou rindo de mim. E eu não acreditei que tinha feito Chico sorrir! Eu tinha feito Chico sorrir depois de dar um banho gelado e salgado nele! Nossa, ele nunca vai me esquecer, pensei. De certa forma, já sou inesquecível para ele. O que mais eu poderia querer da vida?! Hum?!

Pois bem, vocês sabem o que eu queria... e afoita como eu sou... não poderia perder a chance! Comecei a andar ao lado dele. Vejam só! Eu sempre havia dito a vocês que ele é uma pessoa de carne e osso, logo “alcançável”... Aliás, às vezes eu caía em contradição, não era? Porque muitas vezes eu disse que Chico era de Marte porque eu, no alto do meu egocentrismo (ou chicocentrismo), não podia acreditar que ele, tão genial, fosse um ser humano igual a mim...

Pois bem, lembrando que ele era uma pessoa e não um marciano, eu fiquei mais à vontade e comecei a andar do lado dele. Ficamos conversando. Um monte de besteira. Eu estava andando na beira da praia ao lado de Chico Buarque (pôxa, como ele anda rápido! Tô aqui com a maior dor na batata da perna por causa do exercício tão puxado!) e falando besteira! A gente sempre pensa que só pode ter papo cabeça com ele... e eu tava lá falando um monte de besteira... Até perguntei se ele sabia onde os smurfs moravam... Ele disse que não e eu apontei, com meu dedo indicador para o morro do Vidigal e cantei a musiquinha dos smurfs: lá lá lá lá lá lá lá!

Logo eu que já fiz poema e música para ele, estava lá, contando uma piada absurda de boba como essa... Mas no fundo eu fui muito esperta, sabia? Se eu ficasse tratando-o como um ser inatingível, ele não teria ficado conversando comigo... Teria ido embora.

Andamos, falamos dos jornais, das ilhas do mar que parecem mudar de contorno a cada dia, rimos outras vezes do banho que eu dei nele, falamos de Paris e eu me senti como se o conhecesse há milênios! Aí, começou a escurecer e eu lembrei do quão longe eu já estava de casa. Ele estava bem perto de sua casa e como a roupa ainda estava molhada, ele achou melhor ir embora, para não ficar com frio.

Nossa despedida foi engraçada! Eu havia dito a Chico que estava procurando emprego e ele, antes de ir embora, pediu ao rapaz da barraca de coco uma caneta. Pegou um guardanapo e pediu meu email... Eu quase morri! Mas disfarcei, claro! Com naturalidade disse meu e-mail. Chico anotou e disse que iria me mandar um email para que eu mandasse meu currículo para ele. hahahaha

Aí nos abraçamos. Demos dois beijinhos. E eu disse: “se cuide, viu?! E comporte-se! Não fique aí ao relento com essa roupa molhada, viu seu moço!” Ele olhou para mim e disse: “a senhorita também se comporte! Não saía por aí molhando as pessoas! Comporte-se bem... Aliás, comporte-se mal, que é sempre mais interessante!”

Meu Deus! Não pude acreditar! Chico Buarque estava a um palmo de mim, me aconselhando a me comportar mal porque é sempre mais interessante... 

Não pensei duas vezes: puxei-o pelas bochechas e taquei um beijo na boca! Beijei de verdade! Mas estraguei o beijo porque comecei a rir... Sou uma lesa, né? Beijo Chico Buarque e estrago o beijo rindo!

Aí olhei para ele, naquele olho que tava um azul meio cinza também e disse: “foi você quem mandou me comportar mal...” Ele ainda estava sem entender direito o que tinha acontecido, mas riu de mim. Eu, depois dessa loucura, tremia mais que vara verde... Ainda tremo agora, enquanto escrevo, só por lembrar!

Não soube o que fazer, ou como esconder que tava toda errada e vim embora. Dei as costas para Chico enquanto ele ainda ria tentando entender o que beijo tinha sido aquele... 

Agora que estou em casa, duvido de-o-dó (duvidar de-o-dó é bem mais forte que simplesmente duvidar...) que ele me mande email algum... Mas gente, vocês têm que concordar comigo... Eu não pude deixar escapar a oportunidade!

É isso!
Hoje eu não vou mandar beijo não... Quero guardar só para mim o gosto de Chico!
Tati

3 comentários:

Ana Lúcia Prôa disse...

ADORROOOOOOOOO ESSE CONTO! OBRIGADA POR TER ATENDIDO AO MEU PEDIDO!

E continue se comportando mal, pq vc viu que dá samba-canção!

Beijos grandes!

Gisellinha disse...

Pois é... Tens que voltar a escrever mais contos!

julia travassos disse...

Que delícia de conto! Deu até água na boca... Saudade de vc. Beijo grande, na bochecha, mas com cheiro de Recife.