quinta-feira, março 04, 2010

Ônibus para o inferno

Todo dia era a mesma coisa. Ana Sheila acordava cedo e às 5h da manhã já estava saindo de casa. Além de ser atendente de um call center, Ana Sheila estudava Direito. Só voltava para casa às 23h, para dormir.
Ultimamente os atendentes deste call center estavam muito felizes. Porque a instituição em que eles trabalham os contratou, com carteira assinada e tudo bonitinho a que eles tinham direito. Antes eles eram cooperativados, não tinham benefícios como plano de saúde ou garantia de manutenção do emprego após licença maternidade, por exemplo.
Terça-feira à noite um maluco incendiou um ônibus no Rio de Janeiro em represália a uma ação da polícia que tinha prendido um menino com 75 trouxinhas de cocaína. Ana Sheila estava no ônibus. Ela e outras 13 pessoas ficaram feridas. Os boletins médicos dizem que 40% do corpo dela foi queimado.
O call center desta empresa (que, por sinal, é onde eu trabalho), está em clima de velório. Maior tristeza.
Hoje os funcionários fizeram uma vaquinha para ajudar a família na locomoção entre Realengo e Ipanema, onde ela está internada.
Ver todo mundo contribuindo me deu esperança. Por mais que aquele tenha sido um ônibus para o inferno, ainda há cooperação e solidariedade entre as pessoas.

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