Hoje, no caminho do trabalho, o ônibus parou ao lado do colorido Parquinho Peter Pan, na Barata Ribeiro e uma cena me chamou a atenção.
Um pai vigiava o seu filho de uns dois anos brincar dentro do parquinho, enquanto uma mendiga, daquelas senhoras malucas que perambulam pelas ruas com sacolas de sabe-Deus-o-quê nas costas, espionava do lado de fora da grade com olhar fixo na criança. Foi uma cena desconcertante, com certeza. Era um olhar tão profundo, que mesmo a senhora estando de costas para mim, eu pude senti-lo.
O pai também percebeu, óbvio, e sua primeira reação foi posicionar-se no campo de visão dela, para impedir que ela fitasse o menino. Mas não adiantou. Ela continuou imóvel. E em minha cabeça também continuaram as perguntas: o que ela estava olhando tanto no menino? O que ela estava vendo além de uma criança brincando? Poesia em uma manhã de sol? Saudade de um filho que cresceu e ela nunca mais viu? Saudade dela mesma enquanto criança em uma realidade diferente da que estava vivendo?
Como que em um passe de mágica, despertei dos pensamentos quando o pai cansou de sentir seu filho ser observado (e talvez até temendo o que pudesse acontecer...) pegou-o no colo e foi brincar dentro do castelo que há no parque, longe de qualquer olhar da rua. E neste minuto, o sinal abriu e o ônibus seguiu seu caminho.
De longe, vi que a senhora foi embora candidamente quando o pai escondeu o seu filho na redoma.
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