"Notícia, pra mim, é meio de vida, ossos de um ofício que me abraçou, me ensinou os desprazeres do furo e hoje graças a Deus me aceita como um gaiato necessário. Notícia, o leitor sabe, é um aborrecimento danado que, modestamente, tento transformar em piada. Ganho para isso. Ou seja, sou um privilegiado do cacete.
Estive quase um mês longe daqui e, como sempre acontece nessas ocasiões em que caio fora, não li jornais ou revistas, não vi TV, não naveguei na Internet, não soube de quase nada que acontecia no mundo.
Da indescritível sensação do exílio dos fatos à retomada da leitura dos jornais, discordo imensamente do que o mestre Zuenir Ventura me ensinou a vida toda a respeito. Ele sempre volta de férias com a impressão de que nada aconteceu durante sua ausência. Zu recomeça os trabalhos exatamente do ponto onde parou, como se as notícias estivessem à sua espera para acontecerem de novo. Pode ser algum tipo de reverência dos fatos com os mais velhos, pois comigo é sempre uma baita de uma dificuldade me acostumar com as coisas que andaram pelos jornais enquanto estive desligado da mídia. Agora mesmo, voltei ao trabalho com a sensação de que as notícias permanecem enguiçadas, só que em lugares diferentes de onde as deixei atoladas.
O Líbano, por exemplo, virou má notícia há menos de um mês; Sanguessuga também não era esse verme todo; Lula nem sonhava em propor Constituinte pra coisa alguma; os cubanos ainda não sobrevoavam Miami feito urubus à espera da carniça de Fidel; a torcida do Grêmio não era especialmente conhecida pelo vandalismo; a situação do Corinthians não era tão grave; J.K. Rowling não falava em matar Harry Potter; Manoel Carlos não havia escrito o fim de Nanda na novela das oito com tantos requintes de maldade; fazia menos calor em Nova York; Zuenir achava que não existia outra pessoa com esse nome...
Isso quer dizer que o mundo era melhor antes de eu sair de férias? Claro que não! O mundo – bem entendido como notícia de jornal - é a mesma chatice há décadas, não há caravana do Pedro Bial no Jornal Nacional que dê jeito nisso. É assim, e pronto! A gente estranha um pouco sempre que chega do mundo real e fica sabendo o que está acontecendo na rua pela Internet, mas logo se acostuma.
Garanto a vocês: notícia nenhuma importa. Eu só acompanho tudo o que está acontecendo por aí porque vivo disso, e não me queixo. Arrumei um jeito de me divertir com tanta porcaria. Se conseguir nessa minha volta ao trabalho ajudar o leitor a não levar o noticiário a sério, serei um cara realizado."
Trechos da crônica "de volta aos tempos", de Tutty Vasquez, 07/08/2006
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