quarta-feira, junho 28, 2006

A morte lenta e gradual do golpe do baú

"O aumento da expectativa de vida alterou as circunstâncias de sucessão patrimonial tão drasticamente que hoje ameaça até a sobrevivência de um clássico instrumento de enriquecimento: o golpe do baú, afirma Ricardo Taboaço.
No início do século XX, o jovem pouco escrupuloso que se casava, em torno dos 20 anos, com um filho ou filha de pais ricos, de idade próxima à sua, não esperava muito para ouvir o tilintar da herança dos sogros. A conta é simples: a expectativa de vida era, então, de 48 anos e, mesmo que muitas mulheres fossem mães ainda adolescentes, dificilmente teria menos de 40 quando seu filho tivesse, digamos, 23 anos. Assim, tudo funcionando segundo as médias, o golpista esperaria no máximo oito anos até a morte da sogra. Hoje, os pais de um jovem de 23 anos têm, em média, entre 45 e 55, e o golpista esperará de 18 a 28 anos para ver a cor do dinheiro. Isso sem falar na rápida evolução dos diagnósticos e no provável aumento da expectativa de vida nos próximos anos - sobretudo para sogros ricos que possam pagar pela medicina de ponta.

HERANÇA - No novo cenário para a sucessão familiar, a herança chega, em média, 25 anos mais tarde e já não exerce o papel de quando os herdeiros tinham, em geral, entre 30 e 40 anos e atravessavam o período mais crítico da formação da família. Hoje, eles costumam estar entre 55 e 65 anos e suas necessidades mais prementes - assim como as grandes oportunidades - já foram bem ou mal ultrapassadas. As novas circunstâncias sugerem a revisão de conceitos. A poupança que incrementava o patrimônio a ser legado deve, agora, abrir espaço para a doação ou para a simples ajuda. E o adiantamento em vida é uma hipótese a ser avaliada, sempre com muita cautela para não impor riscos ao futuro dos pais."
Fonte: Valor Econômico, 27/06/06

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